Mãe


Ser mãe não é tarefa para qualquer um. Não basta apenas nascer mulher para saber ser mãe. Tem muita mulher que não sabe ser mãe.
Ser mãe é ter um chamado divino, é sagrado, é algo muito sublime.
Em seu interior, um ser é formado. Ela dá a luz e traz uma vida à existência.
Há um grande mistério em ser mãe. Você sai de seu útero para nunca mais voltar e entra em seu coração para de lá nunca mais sair.
Tem mãe que não gerou no útero, mas no coração. Tem “mãe” que gerou no útero, mas não no coração.
Mãe gosta de pegar o filho no colo e trazê-lo para bem perto do coração. Lugar de filho é no coração da mãe.
Mãe dorme pouco e se preocupa muito.
Ela sabe de tudo o que o filho gosta e não mede esforços para dar a ele o que necessita.
Ela se doa e sonha com o futuro dele. 
Está sempre protegendo, mesmo que seja do frio.
Ela dá um cheiro e um beijo.
Orgulha-se das pequenas coisas que o filho faz.
Para a mãe, o filho é sempre pequeno, nunca irá crescer. 
Mãe tem muita paciência, às vezes ela perde, mas logo acha de novo.
Mãe põe termômetro, dá xarope e leva prá tomar vacina. Mãe que é mãe passa protetor solar no filho.
Ela também dá verdura e diz que é preciso comer tudo o que está no prato, mesmo quando o filho já tem seus próprios filhos.
Mãe é ciumenta e nunca acredita quando alguém diz que o filho é bagunceiro. “Meu filho? Ah! Imagina...”, ela diz.
Mãe é coruja, é leoa e galinha (no bom sentido, é claro!)
Mãe aperta a bochecha do filho enquanto o penteia.
Nunca fica sossegada na praia ou perto da piscina.
Mãe custa a dormir enquanto o filho não chega em casa.
Para a mãe, nenhuma mulher está à altura do seu filho, nem existe homem algum que mereça a sua filha.
Mãe gosta de repetir as ordens que deu, quinhentas mil vezes, mesmo que o filho já as tenha entendido na primeira vez.
Tem mãe que não se contenta em ser mãe só de seus filhos; é a mãezona, quer ser mãe de todo mundo.
Existe mãe que perdeu o filho, mas nunca o perdeu em seu coração.
Mãe é forte, mas é delicada. Não se cansa, mas precisa de descanso.
Sorri, mas também chora.
Ser mãe é um trabalho que não tem fim.
Colo de mãe é o melhor remédio.
Mãe cuida, ampara e protege.
É muito difícil esconder algo da mãe, ela descobre tudo.
A mãe nunca abandona seu filho, mesmo que ele esteja em um lugar bem fechado, sem liberdade.
Mãe fica ao lado do filho no hospital. Tem mãe que empurra cadeira de rodas, que se sacrifica pelo filho.
Ela passa frio e fome para que o filho não passe.
Mãe deve ser aplaudida todo dia, não com as mãos, mas com o coração.
Mãe merece a música mais bonita, o lugar mais alto no pódio, uma estátua em sua homenagem, pétalas lançadas do céu, uma queima de fogos... Mas ela troca tudo isso, só para ouvir de você: “Eu também te amo, mãe”.
Isso para ela é o mais importante: o seu amor.

Autoria do texto: Carlos Barabás


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Lá onde nasci


Lá, onde nasci,
Derrubaram as árvores, plantaram os postes.
Tiraram a terra, cimentaram tudo.
Passarinho, só na gaiola, fruta, só no mercado.
As crianças não brincam mais nas ruas.

Lá, onde nasci,
As casas foram empilhadas.
Ninguém conhece mais ninguém.
O vizinho é alguém distante.
As portas estão trancadas.

Lá, onde nasci,
Não tem mais poeira, tem poluição.
Onde era a várzea, agora é um shopping.
No lugar do campinho, mais uma construção.
Muita gente, pouca vida.

Lá, onde nasci,
Só se fala em segurança.
Há grades em todos os lugares.
Ninguém mais é livre.
Ninguém nem sabe que nasci ali.

Lá, onde nasci,
Todo mundo agora anda apressado.
Olhando só para frente e para o relógio.
É um grande vai e vem.
Todo mundo se vê, mas ninguém se enxerga.

Lá, onde nasci,
Ficaram as lembranças e as recordações,
Nostalgia e saudades.
Passou-se a infância, aquele bom tempo.
Lá onde nasci, não existe mais, só dentro de mim.

 Autoria do Poema: Carlos Barabás

Seu Nenga


Conheci seu Nenga, sertanejo da Bahia. Homem simples e de muitas histórias, típico dos Nordestinos.  Chapéu surrado, bota velha e empoeirada, facão na cintura e calça rasgada no joelho. Sua aparência quando calado é rude, mas quando começa a falar  se torna singela e gentil. Até hoje não sei dizer a idade dele, já tentei adivinhar, eu acho que é por volta dos 63. 

Quando estendeu a mão para me cumprimentar, na porteira da sua propriedade, deu para sentir a mão seca e calejada dos anos de trabalho pesado no chão duro e seco do sertão.

Gosta de puxar assunto e falar do passado. Fala apontando para todos os lados, como se eu soubesse tudo o que existe na região e quem são as pessoas de quem fala. Homem de bom coração.

Conheci seu Nenga em uma viagem pelo sertão da Bahia.

Fui conhecer a sua pequena propriedade, que ele com orgulho diz ter documento e tudo. Seu Nenga diz que aquele é o seu pedaço de chão e que foi o bom Deus que deu para ele.

No seu pedaço de chão foi instalada uma bomba d’água elétrica e uma cisterna para ajudar toda a comunidade local. Foi um projeto de ajuda privada, que envolveu várias pessoas e empresas. Fui entrevistar seu Nenga e fotografar o local.

Perguntei para seu Nenga: – O que o senhor cria por aqui?

Ele me respondeu debruçado na manivela da bomba d’água: –  Umas cabrinhas prá leite, umas galinhas prá ovos, tenho um jegue velho pra carregar lenha e um punhado de pé de feijão lá trás na roça.

Continuei com mais uma pergunta: - Essa bomba d’água tem ajudado as famílias da região? – Vixi, se tem, doutô! As crianças tão com mais saúde.

Assim eu continuei com mais algumas perguntas, até chegar a última e terminar a minha visita.     A resposta de seu Nenga demonstrou todo afeto e  simplicidade daquele coração. A pergunta foi:  – Seu Nenga: Quais são seus sonhos?

A sua resposta foi maravilhosa. Ele em um gesto de reverência tira o chapéu da cabeça, o aperta no peito e com um olhar para o céu diz: –  Olha meu filho, eu tenho sonhado muito com a minha “véia” que já se foi há dez anos, quase sempre sonho com ela.

Eu não reformulei a pergunta e conclui com essa resposta simples e do entendimento do seu Nenga.

Voltei com fotos, algumas respostas, mas, acima de tudo, voltei com algo que chamou muito a minha atenção e que me colocou  para pensar a respeito de sonho, ou melhor, sonhos.

O sonho pode ter três significados totalmente diferentes. Primeiro, o sonho pode ser um doce da padaria (que é muito bom, mas que não vem ao caso), segundo, pode ser um forte desejo a respeito de coisas futuras (que era a minha intenção ao fazer a pergunta) e terceiro, podem ser as imagens produzidas pela mente durante o sono (que foi o que o seu Nenga entendeu).

Nossos sonhos e ambições muitas vezes se resumem em desejos de ter o conforto, o progresso, melhora na qualidade de vida e tudo mais para o futuro (que não é errado) mas,  nos esquecemos daquilo que os sonhos nos fazem lembrar o que vivemos no passado, com quem vivemos as lembranças e recordações.

Enquanto eu esperava uma resposta visando o futuro e o progresso que aquela bomba d’água trouxe a comunidade, recebi uma resposta nostálgica, remetendo ao passado e uma saudade.

Ao lado da bomba percebi o quanto o sonho pode ser importante para o futuro, nos levando a uma visão, mas o quanto ele é importante no passado também nós levando a uma recordação.

Guardo a foto do Seu Nenga com muito carinho. Guardo também com carinho os meus sonhos.


Autoria do Texto: Carlos Barabás